This is an online special session which will take place as part of the ANPUR Conference. The session will be held in Portuguese language.
Esta sessão apresenta uma amostra de pesquisas da América Latina, e sobre América Latina, que contam com apoio da Fundação Urban Studies Foundation. O objetivo específico não é apenas debater as especificidades históricas, geográficas, socioespaciais, e políticas do campo dos estudos urbanos na América Latina, que emergem a partir destas pesquisas. A sessão explora também como conhecimento situado regionalmente pode contribuir para uma agenda de estudos urbanos críticos, com relevância política, em escala global. O método adotado na sessão é organizar exemplos temáticos de pesquisa urbana da América Latina em torno de algumas questões transversais. Mais particularmente, qual é a justificativa para escolher determinados recortes temáticos de pesquisa? (como, por exemplo: as trajetórias espaciais contraditórias e o papel do planejamento; o nexo entre formalidade e informalidade; a neoliberalização e a financeirização dos espaços; a mobilidade de políticas e a circulação de ideias e práticas no campo do planejamento em infraestruturas globais para a geração e circulação de conhecimento que são marcadas pela desigualdade)? Qual é o arcabouço teórico adotado para conduzir as investigações sobre temas, e como a constituição destes recortes analíticos se relaciona com os debates mais amplos sobre os limites e as potencialidade de teorias urbanas do Sul Global? Quais são os métodos adotados? Por fim, as pesquisas geram relações imbricadas entre a reflexão crítica e a efetiva transformação das cidades latino-americanas, que continuam marcadas por profundas desigualdades em termos de classe, raça, gênero e etnia? A sessão tem dois resultados esperados. O primeiro é contribuir para o debate da própria Fundação a respeito do seu papel na geração de maior igualdade, diversidade e inclusão nas infraestruturas globais para a geração, circulação e apropriação de conhecimento. Além disso, a sessão procura dialogar com o tema central do Encontro deste ano, isto é, os espaços de esperança no cenário contemporâneo das políticas urbanas no Brasil e na América Latina.
Expositores: Dr Rachel de Castro Almeida, Dr Camila Saraiva, Dr Felipe Rangel Martins, e Dr Daniel Sanfelici.
Coordenador: Professor Jeroen Klink (USF Trustee).
Sessão especial ANPUR. 25 de maio (3h30-5h15 pm).
English translation:
From Latin American scholarship to global urban studies? Exploring agendas for critical research and transformative practice.
This session provides a sample of ongoing academic work from and on Latin America that is supported by the Urban Studies Foundation. It´s specific objective is not only to investigate the obvious historical, geographical, and socio-political specificities of the regional scholarship, but to explore how such deeper, situated regional knowledge might contribute to the field of critical urban studies with policy relevance at a truly global level. To do so, the session will organize several thematic examples of Latin American urban research around a set of broader, cross-cutting questions. More particularly, what is the justification behind specific thematic objects of investigation (be it the contradictory spatial development trajectories and the role of planning; the formality-informality nexus; neo-liberalization and financialization; policy mobility and the circulation of planning ideas and practices in globally unequal knowledge infrastructure networks, among other examples)? What is the theoretical framing that is constituted to investigate these objects and does this framing relate in any way to such wider epistemic debates on the limits and potentials of urban theory from the Global South? What are the research methods employed? Finally, do studies trigger potential linkages between the critical reflection that is generated and the effective transformation in Latin American cities, which continue marked by deep inequalities in terms of class, race, gender, and ethnicity? This session is both expected to contribute to USF’s own policy debates regarding its leverage on the equality, diversity, and inclusion in global urban knowledge networks, as well to establish a constructive dialogue with this year’s general conference theme on ‘spaces of hope’ in the contemporary urban policy scenario in Brazil and Latin America.
Presenters: Dr Rachel de Castro Almeida, Dr Camila Saraiva, Dr Felipe Rangel Martins, and Dr Daniel Sanfelici.
Chair: Professor Jeroen Klink (USF Trustee).
Reunindo para produzir poesia ou para criar espaços de esperança?
Dr Rachel de Castro Almeida (USF International Fellow and Assistant Professor, Pontifical Catholic University of Minas Gerais, Brazil)
Esta apresentação é um convite para seguirmos os rastros da crítica da vida cotidiana de Lefebvre e olharmos juntos para os espaços públicos, especialmente para os saraus, e encontrarmos as pistas deixadas por jovens moradores de áreas periféricas na região metropolitana de Belo Horizonte para a produção de espaços de esperança. De que modo a ocupação dos espaços públicos para a recitação de poesia revela a produção de espaços de resistência? Como essas práticas culturais mostram estratégias para enfrentam as contradições impostas por esse sistema econômico (im)produtivo, as profundas desigualdades sociais, em contextos políticos em que há ameaças constantes à democracia e aos direitos sociais e humanos?
Nas últimas décadas, jovens das periferias das grandes cidades brasileiras vêm inventando com velocidade impressionante novos circuitos culturais e novas soluções econômicas – por mais precárias e informais que sejam – para sustentar a criação de espaços de esperança. Essas novas formas de expressão cultural, que associam os meios digitais e físicos, que se somam a uma cultura de protesto, interconectam esses jovens para além dos limites do espaço geográfico. Essa produção cultural que ocorre à margem do convencional, exibindo reciprocidades entre diferentes grupos, recria códigos de comportamento e até reinventa modelos e relações de produção, conexão e acesso por canais alternativos. Essa ressonância promove a sensação de identificação entre os pares, o reconhecimento junto à comunidade e produz brechas de esperança, nas ruas e pelas ruas.
Pensando através de outros lugares e a partir do específico: a política de urbanização de favelas em cidades latino-americanas
Dr Camila Saraiva (USF Postdoctoral Research Fellow, Universidade Federal do ABC, Brazil)
A busca por semelhanças e diferenças entre as práticas de planejamento tem sido por muito tempo considerada um exercício valioso no campo dos estudos urbanos, menos comum, no entanto, embora crucial – em uma época de crescente circulação de ideias e mobilidades políticas complexas – são as comparações de como a prática de planejamento tem mudado em diferentes culturas e contextos políticos ao longo do tempo (Sanyal, 2005; Sorensen 2014). Tal lacuna é ainda mais evidente no caso de objetos ainda à margem dos estudos urbanos globais, como é o caso da urbanização de assentamentos informais. Nesta apresentação, procura-se contribuir para preencher essas lacunas ao se propor uma comparação genética (Robinson, 2016) das políticas, relacionadas embora distintas, voltadas para a urbanização de assentamentos informais em São Paulo, Buenos Aires e Medellín. Essa análise relacional, na qual uma cidade questiona a outra sobre a evolução das políticas implementadas para assentamentos informais (suas racionalidades, processos de construção de instituições e mecanismos regulatórios), está baseada na noção de lugar como ilimitado, de processos de formulação de políticas urbanas como transescalares, e tangencialmente nos métodos e definições do institucionalismo histórico. O objetivo principal é construir narrativas singulares (mas conectadas) das trajetórias políticas para assentamentos informais na América Latina. Argumenta-se que historicizar as repetições e as condições de diferença tanto no que diz respeito ao surgimento e classificação dos assentamentos informais quanto à sua transformação por meio de políticas de urbanização é uma maneira prolífica de aprofundar nossa compreensão do papel do planejamento na construção das cidades contemporâneas. Além disso, análises históricas comparativas como esta podem contribuir para iluminar novas linhas de política pública (e ação política) relacionadas a assentamentos informais tanto na América Latina como na escala global.
Referências
Sorensen, A (2015) Taking path dependence seriously: an historical institutionalist research agenda in planning history, Planning Perspectives, 30:1, 17-38.
Robinson, J (2016) Thinking cities through elsewhere: comparative tactics for a more global urban studies. Progress in Human Geography, 40 (1), 3-29.
Sanyal, B (2005) Hybrid Planning Cultures: the search for the global cultural commons. In B. Sanyal (Ed.) Comparative Planning Cultures. New York/London: Routledge, p. 3-25.
Formalização excludente nos mercados urbanos: políticas de modernização e produção de desigualdades
Dr Felipe Rangel Martins (USF International Fellow, University of São Paulo, Brazil)
No Brasil, assim como em outros países da América Latina, os mercados urbanos de comércio popular são, historicamente, percebidos pelo Estado e por grande parte da população como espaços de desordem, de precariedade do trabalho, de insegurança e ilegalidades das práticas e das mercadorias. Apoiadas nessas representações, nos últimos anos, políticas municipais em parceria com investidores privados têm implementado estratégias de modernização e formalização desses espaços de mercado em diferentes cidades do país. Essas intervenções, que conjugam aspectos de estetização da informalidade urbana (Roy, 2004), constituem um novo modelo de gestão dos mercados populares, passando a reconhecê-los também como objetos de desenvolvimento urbano e de potencial econômico. Neste artigo, discutirei as contradições desse movimento a partir de pesquisa realizada nos espaços de comércio popular da região do Brás, no centro de São Paulo (Rangel, 2021). Mobilizando a ideia de “formalização excludente”, buscarei iluminar os efeitos de desigualdade produzidos pelas políticas de modernização do comércio informal urbano, considerando que o modelo de regulação empresarial desses mercados, com a privatização dos espaços de comércio, dificulta a permanência dos comerciantes mais vulneráveis. Serão observados também os processos de resistência a essas intervenções, cujas ações e discursos dos comerciantes atingidos evidenciam que as estratégias de formalização e modernização são sempre resultantes de processos políticos, ainda que apresentadas como procedimentos essencialmente técnicos.
Investidores financeiros no mercado imobiliário comercial brasileiro: uma análise comparativa dos FII, fundos de pensão e property companies
Dr Daniel Sanfelici (USF International Fellow and Assistant Professor of Economic Geography, Universidade Federal Fluminense, Brazil)
Ao longo da última década, observou-se um rápido crescimento na criação de novos fundos de investimento imobiliário (FIIs) no Brasil (Sanfelici & Halbert, 2019). No ano de 2020, os FII detinham mais de R$ 120 bilhões em ativos imobiliários no segmento comercial, e o número de cotistas nesses veículos excedia um milhão (a maior parte indivíduos de renda média e alta). Entretanto, o crescimento dos FIIs é parte de uma tendência mais abrangente que atinge o mercado imobiliário comercial brasileiro desde o início dos anos 2000: o declínio de proprietários imobiliários tradicionais (como pequenos investidores, incorporadores e empresas ocupantes) e a ascensão de proprietários institucionais. Tal mudança sugere a necessidade de compreender como investidores locais, com grande soma de recursos sob gestão, conduzem seus investimentos no setor imobiliário, como entendem essa categoria de investimento e os canais que usam para investir. Esse artigo examina as práticas de investimento de três grupos de investidores imobiliários no mercado imobiliário comercial brasileiro: os fundos de investimento imobiliário; as property companies listadas; e os fundos de pensão. Analisamos variáveis-chave que explicam as diferenças nas práticas de investimento, como a estrutura do passivo, os modelos de governança e a participação de investidores finais na tomada de decisão. Os resultados demonstram que, embora esses atores estejam cada vez mais “financeirizados”, diferenças fundamentais em relação à tomada de risco e prioridades de investimento persistem e precisam ser consideradas, tendo em vista suas implicações para o desenvolvimento urbano e as políticas públicas.